SARDOAL Partido Socialista

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02 julho, 2007

O PS/ Sardoal e o patrocínio pela Câmara Municipal do Sardoal da comemoração do centenário da visita do Rei D. Carlos ao Sardoal






Exmo. Senhor
Director do Jornal “ Primeira Linha”
Rolando Silva
primeiralinha@sapo.pt


No passado dia 14 de Junho, o periódico que V. Exa. Superiormente dirige publicou um artigo, na secção “ Actualidade”, dando conta do Programa, co-patrocinado pela Câmara Municipal do Sardoal (CMS), relativo à comemoração do centenário da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal.

Confesso, desde já, aos leitores deste jornal, que recebi um convite, emanado da CMS, para me juntar aos “ festejos comemorativos do 1º Centenário da Visita Régia de Sua Majestade El-Rei D. Carlos I ao Sardoal”.

Não sei bem em que qualidade me deveria juntar: - Se pelo nascimento no Sardoal? Se por ter sido eleito, nesta II República, Deputado municipal no Sardoal? Ou se por ser Presidente do PS/ Sardoal. Uma coisa é para mim clara. Tal acto tem significado político e politicamente merece que eu publicamente o decline e passo a explicar porquê.

Em primeiro lugar gostaria de informar os leitores que sou Republicano, mas a defesa de tais princípios e convicções, nunca me impediram nem impedirão de participar em comemorações de marcos históricos ou culturais ocorridos em qualquer que seja o período da nossa história, da Monarquia à República passando pela Ditadura que dignifiquem Portugal e os Portugueses.

Todos nós aprendemos nos bancos das escolas ou no dia a dia da vida, que Grandes Portugueses como Afonso Costa, Bernardino Machado, Brito Camacho, Magalhães Lima, José do Vale, França Borges, Artur Leitão, Meira e Sousa ou Guerra Junqueiro foram contemporâneos do Rei D. Carlos I.
Todos eles foram opositores ao Regime ditatorial de João Franco, Presidente do Ministério, nomeado em Maio de 1906 para chefiar o seu Governo.

Para melhor compreender o que a CMS está a comemorar importa conhecer o que se passou no ano de 1907, de Janeiro a 22 de Junho - data da visita ao Sardoal do Rei D. Carlos I- no Reino de Portugal.

Permito-me, por isso, trazer à nossa memória histórica alguns factos ocorridos neste período negro da nossa História, designadamente para a imprensa da época.

O ano de 1907 foi um ano marcado pela Ditadura, designadamente com a promulgação de várias leis de Imprensa a última das quais ficou conhecida com lei “ contra a Imprensa”, pelo encerramento do Parlamento e por uma Greve académica iniciada em Coimbra e que rapidamente a alastrou a outras escolas do País.
O analfabetismo vigorava em 70% da população com mais de sete anos.
Em Fevereiro de 1907 existiam em Portugal 2.406.245 mulheres analfabetas segundo escreveu Virgínia Quaresma no Jornal da Mulher de 9 de Fevereiro desse ano.

Em Maio de 1907 o Governo de João Franco determinou o encerramento da Universidade e o regresso dos estudantes às localidades de origem em consequência dos protestos pela reprovação nas provas de concurso para a obtenção do grau de Doutor em Direito a José Dias Ferreira.

Em Abril de 1907, Guerra Junqueiro, foi condenado a 50 dias de prisão, por ter injuriado o REI no Jornal “ A Voz Pública”.
Permitam-me citar parte da sua defesa perante o Tribunal “….Eu não aludo à vida íntima do Sr. D. Carlos. Aludo, é o meu direito e o meu dever, à sua vida de monarca. Ora a história de Portugal, a todos manifesta, em quatro palavras se desenha: Incúrias e desmandos, arbítrios e bocejos. È a verdade clara, verdade autêntica, verdadeira sinistra. Uns proclamam-na, outros murmuram-na. E quem a esconde, ou por dolo, ou por constrangimento, ou por temor, no fundo da alma reconhece-a, …..”.

Neste mesmo mês de Abril de 1907, o Ditador João Franco faz aprovar nova lei de Imprensa.

Em Maio de 1907 o Parlamento é encerrado, ocorrem um conjunto de greves, no sector fabril no Porto, Setubal e Covilhã, o jornal “ o País” é julgado na Boa – Hora, em Lisboa e é absolvido. Neste mesmo mês começam a funcionar os chamados “ Gabinetes Negros “ contra a Imprensa.

Finalmente em Junho de 1907, mês da visita do Rei D. Carlos ao Sardoal, no Dia 1, Brito Camacho de “ A Lucta ” é julgado; No dia 3 dá-se início ao Julgamento de Magalhães Lima e José do Vale, do Jornal Vanguarda; No dia 5 começa o julgamento do jornal “ O País”; No dia 6 é publicado o Decreto que dissolve a Câmara Municipal de Lisboa; No dia 9 realiza-se um grande Comício Republicano no Porto; No dia 11 inicia-se o 3º julgamento de França Borges e Artur Leitão do Jornal “ O Mundo”; No dia 15 Meira e Sousa responde em tribunal por artigos publicados na Imprensa; No dia 16 realiza-se um comício republicano em Portalegre.
No dia 18 de Junho de 1907 a quatro dias da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal, ocorrem graves tumultos em Lisboa, na chegada de João Franco, com 3 mortos e várias prisões.

No dia 20 é publicada nova Lei de Imprensa que vem agravar a já insultuosa lei de Imprensa de 11 de Abril, proibindo os escritos, desenhos ou impressos atentatórios da ordem pública.

Finalmente no dia da chegada ao Sardoal do Rei D. Carlos, a 22de Junho de 1907 o Jornal “ Primeiro de Janeiro” é absolvido em Tribunal.
É neste quadro político de ditadura, perseguição e prisão de todos a aqueles que se opõem ao regime de João Franco que o Rei D. Carlos se desloca ao Sardoal.

Estávamos perto do fim da ditadura, faltavam 3 anos e 4 meses para a queda do Regime Monárquico, para a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.

Tantas efemérides notáveis do nosso passado haverá para comemorar no Sardoal, mas não se deve nem se pode deixar de atender às circunstâncias históricas concretas e reais quando se patrocina, sem ponderação madura, manifestações deste tipo.

Um município quando decide não comemorar o 25 de Abril, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar uma opção política.
Um município quando decide comemorar o centésimo aniversário da vinda do Rei D. Carlos ao Sardoal, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar também uma opção política.

Os Sardoalenses não deixarão de se pronunciar sobre estas opções do município do Sardoal e do seu Presidente no próximo acto eleitoral.

Sardoal, 22 de Junho de 2007
Fernando Vasco

(Presidente do PS/ Sardoal)


Bibliografia utilizada: 1907, No Advento da República,BN,ISBN978-972-656-416-3